domingo, 7 de novembro de 2010

A velha e boa infância parece coisa do passado

Sábado a tarde estava assistindo ao último bloco do programa "O melhor do Brasil" apresentado pelo Rodrigo Faro, onde um grupo de meninas tentava conquistar um grupo de meninos. O objetivo é que cada uma conseguisse um parceiro para conversar, e até o final do programa pintasse um beijão ali no palco.

Mas a principal parte disso tudo é que cada vez que um par chegava ao esperado beijão, o apresentador era "castigado" fazendo uma apresentação de dança fantasiado e imitando um artista. O artista homenageado dessa semana foi Simony e a Turma do Balão Mágico.

Não deu para não se emocionar e sentir um gostoso arrepio de saudades daquele tempo tão incrível, onde criança era tratada como criança pelas emissoras de TV, e os programas infantis eram de fato feitos para crianças, apresentados por crianças e com quadros verdadeiramente infantis. Era o palhaço Bozo num canal e a Turma do Balão Mágico no outro...

Essa época eu não vi mais se repetir depois do surgimento da maior estrela da Rede Globo, a Xuxa. A partir daí o parâmetro de infantilidade era demonstrado por mulheres bonitas, com exposição desnecessária do corpo de uma mulher adulta onde a falta de criatividade da produção era suprida com desenhos animados... é isso. Programa infantil na TV aberta, a partir do surgimento de Xuxa resumiu-se a desenho animado, na maioria das vezes mais dramático do que animado, com a entrada dos super-heróis japoneses da série Pokemon.

E assim a nova safra de crianças, aquelas da geração Y, foi trocando sua inocente infantilidade por um convívio menos leve com a vida, onde o maior percentual de coisas que assistiam era a luta frenética entre bem e o mal... a presença dos apresentadores pouco importava, não havia mais a doçura daquele grupo de crianças que nos emocionava e nos inspirava. Eu vibrava quando o Fofão aparecia no programa, e depois eu brincava de cantar o Superfantástico, a Galinha Magricela, e outras canções da Turma do Balão Mágico ouvindo o disco, enquanto poucos anos depois as meninas brincavam de imitar a Xuxa e as paquitas, e os meninos... lutavam contra os monstros orientais.

Por que a mídia tirou das crianças as coisas boas de uma criança? Quem não viveu aquela fase acha normal o que viu, porque não viu coisa melhor... seus heróis são a turma da Xuxa, É o Tchan e coisas do gênero. Gostam de imitar mulheres líderes de venda da Playboy, e revista Sexy.

E assim caminha a sociedade. Vítima da comunicação em massa, refém da cabeça de poucos que, talvez até sem perceber, mudam a cultura e uma tendência comportamental de toda uma geração. E muitos falam com certa admiração e até orgulho nos dias de hoje que "nossas crianças estão agindo como adultos cada vez mais cedo".

É óbvio, né...

7 comentários:

  1. Adriano,

    Chamamos de mídia, mas também podemos chamar de de sociedade. A questão está muito relacionada aos novos hábitos e costumes, desenvolvidos nos últimos 30 anos, em que a TV assumiu um papel crescente no tempo livre das crianças. Esse post é muito oportuno porque nos faz pensar sobre como o mercado aproveitou uma condição histórica, de maior pressão e necessidade de trabalho por parte dos pais, para tornar as crianças adultas de modo mais rápido. Penso que não é apenas uma questão do bem contra o mal ou da exploração da sexualidade. Antes de mais nada, penso que é uma questão de mercado. Crianças que se tornam adultas de modo mais rápido tenderão a consumir em maior escala mais cedo. Além de interessar à própria mídia, isso interessa ao mercado.

    Abraço,

    Francisco Giovanni

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  2. Meninos... Excelente o comentário do Francisco! Eu sempre pensei como o Adriano só que com um pouco mais de estrada na vida, afinal eu sou do tempo do Capitão Furacão com a Elizângela (ela tinha 14 anos à época) e do Nacional Kid e os Incas Venusianos. rsrsrsrs

    Parando pra pensar, depois de ler as palavras do Francisco, realmente, em meados dos anos 60, minha mãe já trabalhava fora, o que fazia de mim uma vanguardista desde o Jardim de Infância. Meu irmão e eu tivemos uma infância super legal em termos de ausência de violência, morávamos em casa de subúrbio com quintal e ainda havia muito espaço seguro disponivel para andar de bicicleta, soltar pipa, subir nos cajueiros e voltar pra casa toda suja de cajú na roupa. Eu via casas nas quais os quintais tinham pequenos galinheiros, árvores frutíferas de todo tipo, vizinhos que se encontravam na padaria e começavam a conversar ali e só terminavam o papo na casa do outro com um pedaço de bolo caseiro e um café quentinho. E juro que isso aconteceu no Rio de Janeiro, ou melhor, no Estado da Guanabara, mais precisamente nos Estados Unidos do Brasil.

    Continua...

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  3. Apesar dessa infância maravilhosa, como minha mãe trabalhava fora, nós já assistíamos TV como uma "babá eletrônica". E já naquele tempo, 1967 pra frente, foi quando eu comecei a ganhar presentes de Natal ou aniversário anunciados na TV, como as bonecas da Estrela, meu irmão tinha um velocípede Troll. Enfim, por aquele tempo, nós paramos de ter brinquedos educativos, do tipo joguinhos de blocos de madeira, blocos de formas diversas de encaixar, livros infantis. Foram tempos em que a propaganda estava tomando corpo na TV. Eu me lembro que minha mãe comprava roupas para mim numa loja chamada "Boneca" na Rua do Ouvidor e para meu irmão no Príncipe, acho que na Rio Branco (o Príncipe veste hoje o homem de amanhã, era o slogan da loja). Daí, o Cap. Furacão começou a anunciar, durantes os programas, as calças de "brim" da "Fjord" que eram unisex. Pronto... Estava criada a confusão. Meu irmão não queria mais vestir as roupas que minha mãe comprava pq queria a tal Fjord do Cap. Furacão e eu ídem. Ou seja, estávamos na época do merchandising e não sabíamos!

    Continua...

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  4. E no entanto, não havia programas apelativos como atualmente. Eu concordo que a Xuxa foi um marco na TV, até pq fui vítima dela, quando minha filha chorava pq queria se vestir com aquelas botas pretas até o joelho e mini-saia de couro com blusas super coloridas de abóbora, roxo, verde limão etc. Afinal, ela anunciava aquelas ropuas, desculpem-me o termo vulgar, "de prostituta" nas crianças de 7, 8 anos. Como na minha casa isso era proibido, minha filha chorava em prantos pq ela era a única menina que não tinha roupas assim. E odiava por ter de usar vestidos de comprimento normal para crianças com sapatinhos femininos, tudo de criança. Mantive-me irredutível até que ela cresceu e mais tarde me confessou que estava agradecida por eu ter resistido bravamente e não deixá-la ser uma adolescente vulgar. Mas foram muitos fim de semana de choros e estresse. rsrsrs

    Nessa época a Xuxa já saía na Playboy, as Paquitas também... E foi exatamente por este tempo que as meninas começaram a querer ser mais Paquita e modelo de revista do que professora, bailarina, enfermeira, médica ou advogada. Nessa época, meados dos anos 80, os professores já ganhavam uma miséria, a escola pública já tinha se degradado, os hospitais eram um horror, enfim, chegávamos aos tempos "modernos", mais ou menos como sair da Belle Époque para o trabalho pesado nas produções das fábricas de bens de "consumo" como no filme do Chaplin.

    Continua...

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  5. O problema é que depois disso, já estávamos entrando na famigerada globalização nos anos 90, e aí os hábitos estadunidenses de consumismo exacerbado (aquele do atacado no varejo) e aí vc já sabe o resto da história.

    Tudo o que a TV aberta produz são cópias de programas americanos que vc pode ver os originais nas TVs fechadas. Ana Maria é a Martha Stewart. Tudo que existe no Faustão, desde o concurso de dança até sei lá o que tem mais lá é cópia. O BBB "duma figa" é cópia de uma produtora holandesa e assim fomos baixando o nível das programações de TV a tal ponto, que te juro, Adriano, atualmente só assisto, além da TV5Monde francesa (que tem debates fantásticos com gente inteligente DE VERDADE), documentários muito bons e assito tb a TVE da Espanha que sempre me surpreende aos domingos pela manhã com um programa para crianças com um apresentador carísmático, um homem de uns 50 anos que é professor de música, tem uma orquestra no palco, e a plateia lotada de crianças de 6 anos em diante. E ele dá "aulas" de música clássica pra criançada com a ajuda da orquestra e um pequeno corpo de baile que ensena trechos de óperas e contam pras crianças a história da ópera, até elas entenderem e então, elas se vestem como as personagens da ópera, com roupas de época feitas no tamanho delas, e ensenam o trecho que aprenderam. Tudo lúdico, as crianças sentam no chão com o apresentador pra ele contar a história. É o máximo. Todo domingo eu assisto e fico vendo os rostinhos da garotada, todos sorrindo, brincando e um bálsamo para mim saber que isso existe, mesmo que não seja no Brasil... Infelizmente. Depois ninguém consegue explicar pq a violência aumenta tanto, né?!

    O que acho que existe, hoje não só no Brasil, mas no mundo inteiro, é uma total inversão de valores. Não existe mais respeito pelo seu próximo e, portanto, isso não é ensinado à geração futura. Não há mais solidariedade, gentileza, polidez (agradecer, dizer bomdia, pedir licença etc) e, portanto, isso tb não é ensinado à geração futura. Daí para o fundo do poço falta pouco.

    Desculpe pelo "post" no comentário! Você vai ter de passar a me cobrar o espaço usado aqui. rsrsrsrs

    Grande abraço
    Eliane

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  6. Francisco (que eu chamo carinhosamente de Giovanni, rsrs) e Eliane, é sempre uma alegria tê-los aqui no meu blog! E Eliane, quem deveria pagar para garantir a sua escrita sempre aqui era eu!! Escreva a vontade, rsrsrs.

    Francisco disse a pura verdade e Eliane complementou com perfeição, estamos todos de acordo com o apelo consumista aproveitado pela TV. Mas como Eliane conclui, na TV fechada (e também na TV Cultura) ainda há programação que trate a criança com mais respeito à sua faixa etária e ao seu estágio de desenvolvimento humano. Nos tempos de Xuxa e Paquitas, eu tinha meus 12 anos e meu irmão 5, e com certeza o programa atingia nossas mentes e corações de forma completamente diferente. Meu irmão, um menino, não queria vestir-se como a Xuxa... ia querer o que então? O mesmo que eu entrando na puberdade?! Pense bem... nos meus 5 anos havia programação unissex voltada para o público infantil, com linguagem lúdica que explorava a criatividade, e não a sexualidade indireta.

    Assim, sou obrigado a comprar programas prontos dos EUA e Inglaterra, dublados, para serem assistidos em DVD pela minha filha pequena, como Barney, Elmo, além dos brasileiros Cocoricó e castelo Rá-tim-bum. E eles proporcionam exploração mercadológica também, mas dentro dos interesses de cada idade. Vai chegar o tempo de as meninas quererem maquiagem, acessórios, até inspirando-se na própria mãe.

    Mas e o restante do país, assiste o que? Assiste o que as emissoras enfiam goela a baixo.

    Do ponto de vista do marketing oportunista, a TV vem exercendo o seu papel manipulatório diante da sociedade, empurrado por ela mesma, mas também manipulando-a. E contra isso não há como lutar, apesar de eu ser terminantemente avesso a essa "evolução" dirigida mais ao TER do que ao SER.

    Uma ótima semana meus amigos!

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  7. De fato pertinente o comentário do seu amigo Francisco. Claro que é de interesse do mercado que o número de consumidores cresça, e crianças instigam os pais a serem consumidores em potencial.
    Tenho muitos sobrinhos... E tentamos por aqui impedir que eles ultrapassem etapas no seu crescimento, mas é bem difícil em dias que o computador já rouba os telespectadores da TV.
    Aonde vamos parar?

    Beijos, Adriano.
    Boa semana.

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